FREI, Norbert, O Estado de Hitler – O Poder Nacional-Socialista de 1933 a 1945, Lisboa, Editorial Notícias, 2003.
Marco Monteiro, historiador
Norbert Frei, professor de História Moderna e Contemporânea na Universidade de Ruhr, em Bochum, nasceu em 1955 na cidade de Frankfurt. Para além desta obra que nos propomos a recensear, o famoso historiador tem já um vasto conjunto de trabalhos editados que incidem essencialmente sobre a imprensa alemã no período correspondente ao III Reich e posterior ao fim da guerra.
Estruturada em três capítulos, o Estado de Hitler transforma-se numa fonte de estudo de extrema importância para a compreensão do III Reich, do poder que o seu Chanceler, Adolf Hitler, detinha e das manobras políticas que desencadeou para seu próprio proveito, mas sempre cinicamente justificadas em nome da nação alemã.
Logo no primeiro capítulo desta obra, é possível analisarmos a situação político-económica em que se encontrava a Alemanha, um ano depois dos nacionais-socialistas subirem ao poder. Na verdade, poucos eram os sectores onde a crise não se fazia sentir, especialmente entre os grupos de comerciantes e dos homens de negócio. Das promessas feitas na campanha eleitoral, poucas tinham sido cumpridas, engrandecendo o sentimento de mentira e insatisfação por quase toda a população. Mais grave do que a insatisfação foi a censura determinada pelo novo poder a todos aqueles que operavam contra o Estado, ou simplesmente se afirmavam descontentes com a nova política estatal, impedindo a imprensa de informar devidamente os cidadãos sobre o caos em que se encontrava o país. Essa foi aliás uma das preocupações do novo poder, não permitindo que o povo se apercebesse do quão grave era a crise económica, numa sociedade onde cada vez mais os preços dos bens alimentares subiam, os salários desciam e o desemprego aumentava.
Para além da classe média, um dos grupos que se considerava claramente desiludido com os nacionais-socialistas eram os camponeses, obrigados a um novo sistema de comercialização de produtos alimentares centralizado num Departamento de Distribuição para o efeito mas que, infelizmente, não tinha qualquer competência para este tipo de actividade, contribuindo para aumentar a instabilidade vivida neste período onde a revolta contra o sistema hitleriano se tornava crescente.
Era esta a situação vivida pela Alemanha na Primavera de 1934. Classe média, camponeses, operários e praticamente todos os sectores da população não acreditavam mais na imagem que o «Movimento» nazi fizera transparecer antes da sua eleição. No entanto, tal não significa que o Führer (líder) não tivesse consciência da enorme crise que assolava o país, exigindo a todo o custo medidas proibitivas que ajudassem ao recebimento de divisas, entre elas, a importação de matérias-primas.
Para além do sector económico também a função pública discordava da nova política, nomeadamente das intervenções levadas a cabo por elementos do Partido e ainda por alguns comissários pertencentes à SA (Unidade de Assalto).
A par da insatisfação e revolta do povo alemão, o Estado procurava desculpabilizar as consequências da sua política incutindo responsabilidades àqueles a quem apelidava de “elementos perniciosos”, que só encontravam defeitos em tudo e não sabiam agradecer o facto dos nacionais-socialistas terem libertado o povo das correntes marxistas. Por outro lado, a revolta em relação à Unidade Salto (SA) foi ignorada, sendo considerada por Goebbels (Ministro da Propaganda) como uma força da disciplina e da ordem, necessária à paz e à resolução dos conflitos internos e externos do país. Porém, a forma como se desenvolveu a relação entre o Estado liderado por Hitler e esta tão “aclamada” SA, só revela a intenção do Chanceler em colocar rapidamente em marcha os seus planos maquiavélicos.
Composta por cerca de três milhões de elementos, os Camisas-Castanhas (SA) equiparavam-se a um verdadeiro exército que espalhava o terror e antipatia por toda a Alemanha. A sua contribuição no processo de monopolização do poder político, essencial na aniquilação dos sindicatos e na uniformização de algumas associações e ainda de determinadas colectividades, revelou um conjunto de homens revoltados com o capitalismo e doutrinas marxistas. Na verdade, esta desmesurada violência de actos praticados sobre a população e ainda de disciplina em relação a alguns funcionários do NSDAP (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães), tornaram esta Unidade indesejada no seio do poder nacional-socialista. As linhas ideológicas tornaram-se divergentes daquelas que Hitler traçara para o desenvolvimento da sua política, o que conjuntamente com os actos revolucionários destes homens se afirmara como um alvo a travar, ou quem sabe, a abater. Neste momento, a antipatia por esta SA não era apenas demonstrada nas sedes do Partido, mas também visível nas atitudes do Führer.
Outro opositor, por sinal bastante forte, da SA era a Reichswehr (Forças Armadas permitidas pelo Tratado de Versalhes). A Unidade de Assalto não aceitava a superioridade desta força liderada por Röhm (Stabschef – Chefe do Estado-Maior da SA), lutando constantemente pela igualdade de estatutos, sobretudo com a reivindicação de um aparelho jurídico próprio. Como é lógico, Hitler não poderá permitir que ninguém coloque em perigo os seus objectivos e relembra insistentemente a obrigação de lealdade e de obediência que a SA lhe deve. Exactamente por isso algo teria de mudar, e o destino da Unidade de Assalto começa agora a ser traçado de uma forma convicta e inteligente pelo líder do III Reich.
Nas últimas partes deste capítulo, intituladas “O Golpe Duplo de Hitler” e “As Consequências do 30 de Junho”, o autor permite que compreendamos de uma forma sistematizada a estratégia de Adolf Hitler em aniquilar os principais membros da SA e todos os opositores ao seu regime, nomeadamente os antigos membros estatais da direita, a oposição conservadora e todos aqueles que se mostraram incomodativos à política deste novo Estado. No total, 89 pessoas foram assassinadas a sangue-frio, medidas que Hitler afirmou “... serem consideradas legais por se tratar de defesa do Estado”(1). Röhm acabou por se suicidar nos calabouços, apesar da hesitação que Hitler demonstrou em fuzilar o ex-líder da SA.
Se inicialmente o autor preferiu relatar-nos as vivências ocorridas na Alemanha já depois da tomada de posse do Führer, no segundo capítulo é possível entendermos o desenvolvimento interno do III Reich e a sua respectiva formação entre 1933 e 1934. Na verdade, o Chanceler não subira ao poder num altura de apogeu do NSDAP, mas sim numa altura em que este partido declinava e a economia recuperava lentamente, sendo um candidato amplamente desejado.
Depois das negociações problemáticas que levaram à composição do governo sob a forma de coligação com o NSDAP, governo esse composto inclusive por alguns elementos conservadores independentes da direita, o objectivo por parte dos nacionais-socialistas era o de claramente derrubar a República e implantar um Estado do Führer. O objectivo de Hitler pautava pela abolição da democracia partidária, ajudado por uma coligação que se revestia de inúmeras forças, entre elas a burguesia nacionalista-alemã, a burocracia, os latifundiários e a Reichswehr.
A sede incontrolada de eliminação dos comunistas e da corrente marxista torna-se matéria de discurso em todas as intervenções públicas de Hitler. No entanto, este pano de fundo serviria para justificar os horrendos actos cometidos pelo Chanceler e o seu Estado. O objectivo imediato foi a eliminação do Reichstag (Parlamento) que se tornou concretizado após o decreto de dissolução deste parlamento e que mais tarde se conjugaria com a eliminação dos partidos e com a «Uniformização» da sociedade.
Um dos problemas que foram resolvidos à boa maneira hitleriana, e a curto prazo, foi a questão dos Länder (regiões autónomas). No fundo, aquilo que se processou foi uma reestruturação dos governos destas regiões não nacionais-socialistas, com vista a uma uniformização. Em termos práticos, a criação de novos governos locais sob a alçada dos governadores do Reich decretou de uma vez por todas o fim da soberania destes Länder.
Com os trágicos acontecimentos decorridos na Alemanha nazi, não é de admirar que a opinião pública rapidamente tomasse proporções alarmantes, nomeadamente no estrangeiro. Ora, aliando este facto às declarações públicas de alguns emigrantes socialistas e judeus, abriu-se mais uma porta para a descriminação partidária e racial que recaiu, obviamente, sobre estes indivíduos, embora sem muito sucesso nos objectivos a que se destinavam. No entanto, alguns judeus chegaram a ser exonerados do cargo de funcionários públicos e dia após dia viam o seu espaço de vida reduzido.
No âmbito das eliminações partidárias, os sindicatos e movimentos trabalhistas surgiam também como elementos indesejados ao exercício do poder hitleriano. Assim, o alvo a abater seria o movimento operário, e mais concretamente a definitiva aniquilação política dos sindicatos. Todo este processo se incluía ainda na Uniformização traçada pelo Estado, onde simultaneamente se encontrava também o sector agrícola.
Com a admissão dos mandatários dos nacionalistas-alemães nas fracções do NSDAP no Reichstag, nos Länder e ainda nos Concelhos Municipais, os partidos simplesmente desapareceram, embora ainda restasse uma névoa que prejudicava os objectivos do Führer, nomeadamente, a Reichswehr e o Presidente do Reich. O Estado de Hitler estava a meio caminho dos seus objectivos finais, e no plano internacional já era visível esta situação. Em Outubro de 1933 o Chanceler declara a Alemanha fora da Sociedade das Nações e demonstra a sede de liberdade de acção para lutar contra as prerrogativas do Tratado de Versalhes.
Na segunda parte deste capítulo (“Consolidação”), é possível entendermos os momentos mais calmos do poder nacional-socialista. Na verdade, antes da política de guerra, o período que ajudou a consolidar este poder foi o mesmo que permitiu o desenvolvimento de alguns projectos da organização interna.
teoria revelada por John Maynard, em que “... as crises de mercado tinham de ser combatidas com programas de investimento e psicologia política”(2), parece ter sido utilizada, mesmo que inconscientemente pelo partido, apoiado nos planos promovidos pelos anteriores governos e pela sua apresentação populista recheada de propaganda, como sejam os «empréstimos matrimoniais». A valorização do trabalho manual e a implantação do serviço militar obrigatório e ainda de um serviço do trabalho com a duração de seis meses contribuíram para acabar com o desemprego. No entanto, os objectivos políticos de um mega armamento e de uma autonomia económica levam a um processo de rearmamento e aos preparativos para a guerra, traduzindo-se num gasto sobrelevado de verbas que colocariam o país numa situação económica mais complicada.
A criação de uma liturgia própria caracteriza a forma como os nacionais-socialistas se distinguiam dos outros partidos. No fundo, a auto-encenação viria a proporcionar ao III Reich um poder teocrático, baseado numa união ideológica de luta traduzida na exagerada autoridade deste Estado. Porém, nem sempre esta autoridade e simultânea influência se verificou a todos os níveis. No âmbito cultural o regime pouco se enraizou, continuando as principais correntes de evolução de cultura de massas a decorrer no período nacional-socialista e até mesmo posteriormente.
No último ponto da segunda parte deste capítulo, o autor descreve-nos a sistematização do terror e respectiva ascensão da SS (Secção de Segurança). Indubitável é o facto de a eliminação política da SA (Unidade de Assalto), que anteriormente referimos, ter contribuído significativamente para a ascensão da nova força policial, constituindo-se como uma divisão autónoma do Partido e chefiada por Himmler, subordinado directo de Hitler e responsável por todos os campos de concentração. Tal autoridade viria a ser reforçada pelo decreto de Hitler em que encarregava Himmler de unificar e coordenar as tarefas de polícia do império. A partir deste momento, a SS apoderava-se de todo o sistema policial alemão. Na verdade, os objectivos delineados por Hitler conjuntamente com Himmler eram, como sempre, muito mais vastos do que se possa pensar. O intuito visava uma “...utopia totalitária de uma supra-instituição, ideologicamente racista, encarregada da higiene social e do saneamento contínuo...”(3), onde os elementos perniciosos eram agora perseguidos por uma polícia judiciária.
Enraizados pelo «Mito do Führer» e pela «Comunhão Nacional», poucos eram aqueles que se apercebiam do tipo de Estado que governava a Alemanha de então. Por tudo isto, o processo de transformação da SS passara despercebido e as suas acções marcavam cada vez mais a estirpe deste Estado e do seu líder. E à semelhança do que acontecia com a Wehrmacht (Forças Armadas do III Reich), as únicas pessoas que lhes poderiam colocar barreiras eram os próprios chefes, desta feita, o líder, o único mandatário deste poder autoritário e destruidor, Adolf Hitler.
Estruturada em três capítulos, o Estado de Hitler transforma-se numa fonte de estudo de extrema importância para a compreensão do III Reich, do poder que o seu Chanceler, Adolf Hitler, detinha e das manobras políticas que desencadeou para seu próprio proveito, mas sempre cinicamente justificadas em nome da nação alemã.
Logo no primeiro capítulo desta obra, é possível analisarmos a situação político-económica em que se encontrava a Alemanha, um ano depois dos nacionais-socialistas subirem ao poder. Na verdade, poucos eram os sectores onde a crise não se fazia sentir, especialmente entre os grupos de comerciantes e dos homens de negócio. Das promessas feitas na campanha eleitoral, poucas tinham sido cumpridas, engrandecendo o sentimento de mentira e insatisfação por quase toda a população. Mais grave do que a insatisfação foi a censura determinada pelo novo poder a todos aqueles que operavam contra o Estado, ou simplesmente se afirmavam descontentes com a nova política estatal, impedindo a imprensa de informar devidamente os cidadãos sobre o caos em que se encontrava o país. Essa foi aliás uma das preocupações do novo poder, não permitindo que o povo se apercebesse do quão grave era a crise económica, numa sociedade onde cada vez mais os preços dos bens alimentares subiam, os salários desciam e o desemprego aumentava.
Para além da classe média, um dos grupos que se considerava claramente desiludido com os nacionais-socialistas eram os camponeses, obrigados a um novo sistema de comercialização de produtos alimentares centralizado num Departamento de Distribuição para o efeito mas que, infelizmente, não tinha qualquer competência para este tipo de actividade, contribuindo para aumentar a instabilidade vivida neste período onde a revolta contra o sistema hitleriano se tornava crescente.
Era esta a situação vivida pela Alemanha na Primavera de 1934. Classe média, camponeses, operários e praticamente todos os sectores da população não acreditavam mais na imagem que o «Movimento» nazi fizera transparecer antes da sua eleição. No entanto, tal não significa que o Führer (líder) não tivesse consciência da enorme crise que assolava o país, exigindo a todo o custo medidas proibitivas que ajudassem ao recebimento de divisas, entre elas, a importação de matérias-primas.
Para além do sector económico também a função pública discordava da nova política, nomeadamente das intervenções levadas a cabo por elementos do Partido e ainda por alguns comissários pertencentes à SA (Unidade de Assalto).
A par da insatisfação e revolta do povo alemão, o Estado procurava desculpabilizar as consequências da sua política incutindo responsabilidades àqueles a quem apelidava de “elementos perniciosos”, que só encontravam defeitos em tudo e não sabiam agradecer o facto dos nacionais-socialistas terem libertado o povo das correntes marxistas. Por outro lado, a revolta em relação à Unidade Salto (SA) foi ignorada, sendo considerada por Goebbels (Ministro da Propaganda) como uma força da disciplina e da ordem, necessária à paz e à resolução dos conflitos internos e externos do país. Porém, a forma como se desenvolveu a relação entre o Estado liderado por Hitler e esta tão “aclamada” SA, só revela a intenção do Chanceler em colocar rapidamente em marcha os seus planos maquiavélicos.
Composta por cerca de três milhões de elementos, os Camisas-Castanhas (SA) equiparavam-se a um verdadeiro exército que espalhava o terror e antipatia por toda a Alemanha. A sua contribuição no processo de monopolização do poder político, essencial na aniquilação dos sindicatos e na uniformização de algumas associações e ainda de determinadas colectividades, revelou um conjunto de homens revoltados com o capitalismo e doutrinas marxistas. Na verdade, esta desmesurada violência de actos praticados sobre a população e ainda de disciplina em relação a alguns funcionários do NSDAP (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães), tornaram esta Unidade indesejada no seio do poder nacional-socialista. As linhas ideológicas tornaram-se divergentes daquelas que Hitler traçara para o desenvolvimento da sua política, o que conjuntamente com os actos revolucionários destes homens se afirmara como um alvo a travar, ou quem sabe, a abater. Neste momento, a antipatia por esta SA não era apenas demonstrada nas sedes do Partido, mas também visível nas atitudes do Führer.
Outro opositor, por sinal bastante forte, da SA era a Reichswehr (Forças Armadas permitidas pelo Tratado de Versalhes). A Unidade de Assalto não aceitava a superioridade desta força liderada por Röhm (Stabschef – Chefe do Estado-Maior da SA), lutando constantemente pela igualdade de estatutos, sobretudo com a reivindicação de um aparelho jurídico próprio. Como é lógico, Hitler não poderá permitir que ninguém coloque em perigo os seus objectivos e relembra insistentemente a obrigação de lealdade e de obediência que a SA lhe deve. Exactamente por isso algo teria de mudar, e o destino da Unidade de Assalto começa agora a ser traçado de uma forma convicta e inteligente pelo líder do III Reich.
Nas últimas partes deste capítulo, intituladas “O Golpe Duplo de Hitler” e “As Consequências do 30 de Junho”, o autor permite que compreendamos de uma forma sistematizada a estratégia de Adolf Hitler em aniquilar os principais membros da SA e todos os opositores ao seu regime, nomeadamente os antigos membros estatais da direita, a oposição conservadora e todos aqueles que se mostraram incomodativos à política deste novo Estado. No total, 89 pessoas foram assassinadas a sangue-frio, medidas que Hitler afirmou “... serem consideradas legais por se tratar de defesa do Estado”(1). Röhm acabou por se suicidar nos calabouços, apesar da hesitação que Hitler demonstrou em fuzilar o ex-líder da SA.
Se inicialmente o autor preferiu relatar-nos as vivências ocorridas na Alemanha já depois da tomada de posse do Führer, no segundo capítulo é possível entendermos o desenvolvimento interno do III Reich e a sua respectiva formação entre 1933 e 1934. Na verdade, o Chanceler não subira ao poder num altura de apogeu do NSDAP, mas sim numa altura em que este partido declinava e a economia recuperava lentamente, sendo um candidato amplamente desejado.
Depois das negociações problemáticas que levaram à composição do governo sob a forma de coligação com o NSDAP, governo esse composto inclusive por alguns elementos conservadores independentes da direita, o objectivo por parte dos nacionais-socialistas era o de claramente derrubar a República e implantar um Estado do Führer. O objectivo de Hitler pautava pela abolição da democracia partidária, ajudado por uma coligação que se revestia de inúmeras forças, entre elas a burguesia nacionalista-alemã, a burocracia, os latifundiários e a Reichswehr.
A sede incontrolada de eliminação dos comunistas e da corrente marxista torna-se matéria de discurso em todas as intervenções públicas de Hitler. No entanto, este pano de fundo serviria para justificar os horrendos actos cometidos pelo Chanceler e o seu Estado. O objectivo imediato foi a eliminação do Reichstag (Parlamento) que se tornou concretizado após o decreto de dissolução deste parlamento e que mais tarde se conjugaria com a eliminação dos partidos e com a «Uniformização» da sociedade.
Um dos problemas que foram resolvidos à boa maneira hitleriana, e a curto prazo, foi a questão dos Länder (regiões autónomas). No fundo, aquilo que se processou foi uma reestruturação dos governos destas regiões não nacionais-socialistas, com vista a uma uniformização. Em termos práticos, a criação de novos governos locais sob a alçada dos governadores do Reich decretou de uma vez por todas o fim da soberania destes Länder.
Com os trágicos acontecimentos decorridos na Alemanha nazi, não é de admirar que a opinião pública rapidamente tomasse proporções alarmantes, nomeadamente no estrangeiro. Ora, aliando este facto às declarações públicas de alguns emigrantes socialistas e judeus, abriu-se mais uma porta para a descriminação partidária e racial que recaiu, obviamente, sobre estes indivíduos, embora sem muito sucesso nos objectivos a que se destinavam. No entanto, alguns judeus chegaram a ser exonerados do cargo de funcionários públicos e dia após dia viam o seu espaço de vida reduzido.
No âmbito das eliminações partidárias, os sindicatos e movimentos trabalhistas surgiam também como elementos indesejados ao exercício do poder hitleriano. Assim, o alvo a abater seria o movimento operário, e mais concretamente a definitiva aniquilação política dos sindicatos. Todo este processo se incluía ainda na Uniformização traçada pelo Estado, onde simultaneamente se encontrava também o sector agrícola.
Com a admissão dos mandatários dos nacionalistas-alemães nas fracções do NSDAP no Reichstag, nos Länder e ainda nos Concelhos Municipais, os partidos simplesmente desapareceram, embora ainda restasse uma névoa que prejudicava os objectivos do Führer, nomeadamente, a Reichswehr e o Presidente do Reich. O Estado de Hitler estava a meio caminho dos seus objectivos finais, e no plano internacional já era visível esta situação. Em Outubro de 1933 o Chanceler declara a Alemanha fora da Sociedade das Nações e demonstra a sede de liberdade de acção para lutar contra as prerrogativas do Tratado de Versalhes.
Na segunda parte deste capítulo (“Consolidação”), é possível entendermos os momentos mais calmos do poder nacional-socialista. Na verdade, antes da política de guerra, o período que ajudou a consolidar este poder foi o mesmo que permitiu o desenvolvimento de alguns projectos da organização interna.
teoria revelada por John Maynard, em que “... as crises de mercado tinham de ser combatidas com programas de investimento e psicologia política”(2), parece ter sido utilizada, mesmo que inconscientemente pelo partido, apoiado nos planos promovidos pelos anteriores governos e pela sua apresentação populista recheada de propaganda, como sejam os «empréstimos matrimoniais». A valorização do trabalho manual e a implantação do serviço militar obrigatório e ainda de um serviço do trabalho com a duração de seis meses contribuíram para acabar com o desemprego. No entanto, os objectivos políticos de um mega armamento e de uma autonomia económica levam a um processo de rearmamento e aos preparativos para a guerra, traduzindo-se num gasto sobrelevado de verbas que colocariam o país numa situação económica mais complicada.
A criação de uma liturgia própria caracteriza a forma como os nacionais-socialistas se distinguiam dos outros partidos. No fundo, a auto-encenação viria a proporcionar ao III Reich um poder teocrático, baseado numa união ideológica de luta traduzida na exagerada autoridade deste Estado. Porém, nem sempre esta autoridade e simultânea influência se verificou a todos os níveis. No âmbito cultural o regime pouco se enraizou, continuando as principais correntes de evolução de cultura de massas a decorrer no período nacional-socialista e até mesmo posteriormente.
No último ponto da segunda parte deste capítulo, o autor descreve-nos a sistematização do terror e respectiva ascensão da SS (Secção de Segurança). Indubitável é o facto de a eliminação política da SA (Unidade de Assalto), que anteriormente referimos, ter contribuído significativamente para a ascensão da nova força policial, constituindo-se como uma divisão autónoma do Partido e chefiada por Himmler, subordinado directo de Hitler e responsável por todos os campos de concentração. Tal autoridade viria a ser reforçada pelo decreto de Hitler em que encarregava Himmler de unificar e coordenar as tarefas de polícia do império. A partir deste momento, a SS apoderava-se de todo o sistema policial alemão. Na verdade, os objectivos delineados por Hitler conjuntamente com Himmler eram, como sempre, muito mais vastos do que se possa pensar. O intuito visava uma “...utopia totalitária de uma supra-instituição, ideologicamente racista, encarregada da higiene social e do saneamento contínuo...”(3), onde os elementos perniciosos eram agora perseguidos por uma polícia judiciária.
Enraizados pelo «Mito do Führer» e pela «Comunhão Nacional», poucos eram aqueles que se apercebiam do tipo de Estado que governava a Alemanha de então. Por tudo isto, o processo de transformação da SS passara despercebido e as suas acções marcavam cada vez mais a estirpe deste Estado e do seu líder. E à semelhança do que acontecia com a Wehrmacht (Forças Armadas do III Reich), as únicas pessoas que lhes poderiam colocar barreiras eram os próprios chefes, desta feita, o líder, o único mandatário deste poder autoritário e destruidor, Adolf Hitler.
Vera Grilo, historiadora
No terceiro ponto da segunda parte da obra, o autor foca o período de radicalização no interior do III Reich, remetendo para a cronologia de 1938 a 1945. Aponta para o objectivo da política de Hitler, assente na necessidade de expansão territorial para oriente e de apuramento da chamada «raça pura». A política externa acaba por se centrar na conquista da Europa do Leste, beneficiando do acordo entre Hitler e Estaline. Tornava-se indispensável um plano de armamento assim como de auto-suficiência económica. A partir de 1939, são difundidas senhas de racionamento que se destinam a uma gestão rigorosa da alimentação, do vestuário e de outros bens de primeira ordem. Verifica-se, ainda, outras restrições assentes na abolição de férias e na aplicação de impostos sobre produtos e serviços considerados dispensáveis à sobrevivência. Não obstante, as tentativas de reforma por parte da DAF, na realidade, a segurança social não conseguiu desenvolver os seus planos no âmbito da assistência à saúde, ao desemprego e à terceira idade.
No que concerne às medidas de segurança interna, assiste-se a uma união entre os Serviços de Segurança (SD) e a Secção de Segurança (SA). O êxito de um «patriotismo agressivo» deve-se ao triunfo de uma ideologia assente na total obediência a Hitler, enquanto chefe carismático que conseguiu movimentar um conjunto de massas muito significativo. Assente no ideal de «purificação da raça ariana», e para além dos processos de esterilização forçada, ocorre um verdadeiro massacre tanto de deficientes físicos como de deficientes mentais. Mas, a práctica da eutanásia acaba por se alargar aos «deportados», aos «insociais», aos psicopatas, aos homosexuais, aos «histéricos de guerra», aos trabalhadores estrangeiros inaptos e aos idosos incapacitados. Segundo o autor, "A práctica da «purificação» social (...) residia numa mistura de modernidade científica, racionalidade técnica e ideias reaccionárias utópicas...”(4). Como tal, o estado pretendia o cultivo das medidas eugénicas, promovendo a constituição de famílias reforçadas por laços de hereditariedade saudável. A radicalização do ideal de pureza estendeu-se aos elementos considerados à margem da comunidade nacional quer por razões de natureza social quer de natureza racial. Os territórios ocupados a Oeste da Polónia foram usados como laboratórios para as experiências de Himmler. Apesar de um grande número de deportações de polacos e da «germanização» de muitas crianças, foram criados guetos e construídas as instalações destinadas ao extermínio dos judeus provenientes da Europa. Auschwitz, Monowitz e Birkenau representam verdadeiras zonas de trabalho forçado, fome e epidemia de indivíduos considerados inferiores. Por volta de 1934-35, na Alemanha começaram os primeiros confiscos das empresas judaicas. Com base, nos registos paroquiais foi possível apurar as àrvores geneológicas e promover uma lei que proibia o relacionamento sexual entre judeus e não judeus assim como o exercício da maior parte das profissões liberais. Na sequência do atentado protoganizado por um jovem semita contra um membro do partido nacionalista, desencadeou-se a «Noite de Cristal», marcada por violentos assassínios, por pilhagens de casas, lojas e sinagogas e pelo envio de cerca de 30 000 deportados para os campos de concentração. A partir deste momento, os judeus foram obrigados a declarar os seus rendimentos, a ter o acesso interdito a locais e transportes públicos (onde viajavam compartimentados), a entregar os pretences mais valiosos e a enfrentar uma segregação educacional.
Entretanto, tornara-se obrigatório o uso de uma estrela amarela no Reich, assim como lhe foi retirado o direito de cidadania. Contudo, podiam emigrar mediante o pagamento de uma taxa fixada pela União dos Judeus mas controlada pela Gestapo. Na década de 40, ocorre o genocídio do povo judaico- mais tarde denominado por Holocausto. O autor, coloca em voga, o nome do/s principal/ais responsável/eis pelo decreto da «solução final», concluíndo tratar-se de uma acção conjunta de interesses e, essencialmente, do resultado de um fanatismo ideológico. A impulsionar este racismo anti-semita passa a ligar-se o judaísmo ao bolchevismo. No Campo de Extermínio de Kulmhof, Auschwitz e Belzec, as pessoas foram gazeadas, asfixiadas e queimadas.
Torna-se pertinente questionar a participação do povo alemão num conjunto de actos que, dificilmente, passaram despercebidos à maioria da população. Mas uma vez mais, Norbert articula um jogo de interesses tanto político como económico.
Será graças às investidas por parte dos Aliados, e ao decreto da guerra total que ocorrerá não só o fim da política extermista como o próprio desmembramento do poder nazi. No sentido de colmatar as dificuldades de abastecimento interno, é recrutado um grande número de trabalhadores estrangeiros ( prisioneiros de guerra) para a agricultura e para indústria de armamento. Em prejuízo do comércio e do artesanato desenvolve-se a produção de material bélico. Se inicialmente, o espírito patriótico era superior a qualquer revolta contra o Füher, com o decorrer da guerra, estimulado pelos ataques aéreos estrangeiros, começa a fazer sentir-se um certo descontentamento geral da população. Contudo, e mesmo após o atentado contra Hitler, as opiniões ainda divergiam. «O Chefe», acreditava na força do «seu Estado» e na fidelidade do «seu Povo» à « Comunhão Nacional». Por intermédio da ameaça e da repressão os tribunais nazis e as forças policiais tentavam dissuadir os cidadãos alemães a entregar-se. Todavia, perante a evidência dos factos, o Füher colocou termo à vida, suicidando, definitivamente, o nacional-socialismo.
Após a apresentação de um conjunto de notas explicativas das temáticas desenvolvidas no II capítulo, o autor decreve o impacto e as consequências do «Estado do Füher». Assim na terceira parte da obra procura justificar um poder que transcendeu a vertente política, afigurando-se como uma verdadeira fé doutinária assente na contemplação do líder nacional-socialista. Norbert Frei, ressalva, também, a importância da contextualização espaço-temporal enquanto elemento indispensável para compreender um poder que caiu na radicalização. Para o endurecimento da ideologia nazi, aponta o contributo da própria civilização moderna, industrial e científicamente desenvolvida. Apesar de não ter ocorrido uma revolução, verificou-se uma alteração psico-social muito significativa. Se por um lado se torna inegável a prevalência de um Estado totalitário, por outro, houve aspectos como a acultura, a arte e a religião que ficaram à margem da sua influência.
O conjunto de Documentos disponível, permite ao leitor ter uma representação dos factos por intermédio de uma visão contemporânea. Com efeito, é possível estudar a relação sócio-ideológica estabelecida por Rudolf Heberle face ao nacional-socialismo. Por sua vez, o discurso de Rudolf Heb aponta para a capacidade do regime persuadir a nação alemã a cooperar activamente na política de guerra. No que concerne ao comentário de Joseph Goebbels remete para uma a acção estatal repressiva que tenta controlar todos os aspectos da cultura. O documento nº 4, resulta de um discurso proferido por Hitler e reforça o poder totalitário, déspota e autocrata do líder político. As cartas deixadas por Heinrich Himmler revelam a articulação entre a ciência e os ideais puramente racistas. Se o objectivo de Robert Ley versa a expansão territorial do povo germânico, o artigo nº7 adverte para a necessidade de uma selecção social, afastando a «raça pura» do «grupo dos falhados», do «grupo dos preguiçosos e desmazelados» e do «grupo dos criminosos». Através da correspondência endereçada pelo Dr. Friedrich Mennecke identifica-se os processos da terapia psiquiátrica usados nos campos de concentração de Sachsehausen, Ravensbrück, e de Buchenwald. Enquanto a Europa do Leste surge como a esperança num futuro próximo, Helmuth James Graf von Moltke denuncia a violência presente na política externa alemã. Aliás, a análise da Conferência de Wannsee reforça o sentido anti-semita. Por último a leitura do artigo nº 10 fornece o cenário decadente do Reich. Após a invasão soviética, a situação do povo alemão tornou-se mais angustiante. À guerra juntou-se a fome, o desemprego e o desconfiança. Todavia, só com os constantes bombardeamentos é que a «Comunhão Nacional» atribuiu as culpas aos dirigentes políticos.
De forma crítica e minuciosa, Norbert Frei elabora um percurso que retrata não só as Fontes utilizadas como elucida o leitor acerca do próprio processo de investigação e da literatura correspondente. Os dicionários pessoais, as enciclopédias, as cronologias, as actas, os jornais e revistas, os relatórios os diários e o discurso oral representam um importante espólio informativo à disposição do historiador. Não obstante as perdas de documentos durante a II Guerra Mundial, os arquivos municipais e os arquivos privados apresentam-se como uma mais valia ao trabalho de investigadores como Rothfels, Theodor Eschenburg, Ludwig Bergsträsser ou Hans Herzfeld. O autor foca a importância do congresso internacional no Reichtag não tanto em termos de objectividade científica mas sobretudo pelo conjunto de problemáticas que acabou por suscitar, concluindo que a mudança não está no interesse, mas sim, na forma de conceber a história alemã entre os anos de 1933-1945.
Para além das respectivas notas bibliográficas, o livro alvo de estudo é composto por um Quadro Cronológico desenvolvido, por Quadros Sinópticos (que permitem a efectuação de séries comparativas), por um Epílogo referente à Edição Renovada, por um Índice de Abreviaturas e por um Índice Onomástico. Deste modo, «O Estado de Hitler» apresenta-se como uma obra diligentemente estruturada.
No que concerne às medidas de segurança interna, assiste-se a uma união entre os Serviços de Segurança (SD) e a Secção de Segurança (SA). O êxito de um «patriotismo agressivo» deve-se ao triunfo de uma ideologia assente na total obediência a Hitler, enquanto chefe carismático que conseguiu movimentar um conjunto de massas muito significativo. Assente no ideal de «purificação da raça ariana», e para além dos processos de esterilização forçada, ocorre um verdadeiro massacre tanto de deficientes físicos como de deficientes mentais. Mas, a práctica da eutanásia acaba por se alargar aos «deportados», aos «insociais», aos psicopatas, aos homosexuais, aos «histéricos de guerra», aos trabalhadores estrangeiros inaptos e aos idosos incapacitados. Segundo o autor, "A práctica da «purificação» social (...) residia numa mistura de modernidade científica, racionalidade técnica e ideias reaccionárias utópicas...”(4). Como tal, o estado pretendia o cultivo das medidas eugénicas, promovendo a constituição de famílias reforçadas por laços de hereditariedade saudável. A radicalização do ideal de pureza estendeu-se aos elementos considerados à margem da comunidade nacional quer por razões de natureza social quer de natureza racial. Os territórios ocupados a Oeste da Polónia foram usados como laboratórios para as experiências de Himmler. Apesar de um grande número de deportações de polacos e da «germanização» de muitas crianças, foram criados guetos e construídas as instalações destinadas ao extermínio dos judeus provenientes da Europa. Auschwitz, Monowitz e Birkenau representam verdadeiras zonas de trabalho forçado, fome e epidemia de indivíduos considerados inferiores. Por volta de 1934-35, na Alemanha começaram os primeiros confiscos das empresas judaicas. Com base, nos registos paroquiais foi possível apurar as àrvores geneológicas e promover uma lei que proibia o relacionamento sexual entre judeus e não judeus assim como o exercício da maior parte das profissões liberais. Na sequência do atentado protoganizado por um jovem semita contra um membro do partido nacionalista, desencadeou-se a «Noite de Cristal», marcada por violentos assassínios, por pilhagens de casas, lojas e sinagogas e pelo envio de cerca de 30 000 deportados para os campos de concentração. A partir deste momento, os judeus foram obrigados a declarar os seus rendimentos, a ter o acesso interdito a locais e transportes públicos (onde viajavam compartimentados), a entregar os pretences mais valiosos e a enfrentar uma segregação educacional.
Entretanto, tornara-se obrigatório o uso de uma estrela amarela no Reich, assim como lhe foi retirado o direito de cidadania. Contudo, podiam emigrar mediante o pagamento de uma taxa fixada pela União dos Judeus mas controlada pela Gestapo. Na década de 40, ocorre o genocídio do povo judaico- mais tarde denominado por Holocausto. O autor, coloca em voga, o nome do/s principal/ais responsável/eis pelo decreto da «solução final», concluíndo tratar-se de uma acção conjunta de interesses e, essencialmente, do resultado de um fanatismo ideológico. A impulsionar este racismo anti-semita passa a ligar-se o judaísmo ao bolchevismo. No Campo de Extermínio de Kulmhof, Auschwitz e Belzec, as pessoas foram gazeadas, asfixiadas e queimadas.
Torna-se pertinente questionar a participação do povo alemão num conjunto de actos que, dificilmente, passaram despercebidos à maioria da população. Mas uma vez mais, Norbert articula um jogo de interesses tanto político como económico.
Será graças às investidas por parte dos Aliados, e ao decreto da guerra total que ocorrerá não só o fim da política extermista como o próprio desmembramento do poder nazi. No sentido de colmatar as dificuldades de abastecimento interno, é recrutado um grande número de trabalhadores estrangeiros ( prisioneiros de guerra) para a agricultura e para indústria de armamento. Em prejuízo do comércio e do artesanato desenvolve-se a produção de material bélico. Se inicialmente, o espírito patriótico era superior a qualquer revolta contra o Füher, com o decorrer da guerra, estimulado pelos ataques aéreos estrangeiros, começa a fazer sentir-se um certo descontentamento geral da população. Contudo, e mesmo após o atentado contra Hitler, as opiniões ainda divergiam. «O Chefe», acreditava na força do «seu Estado» e na fidelidade do «seu Povo» à « Comunhão Nacional». Por intermédio da ameaça e da repressão os tribunais nazis e as forças policiais tentavam dissuadir os cidadãos alemães a entregar-se. Todavia, perante a evidência dos factos, o Füher colocou termo à vida, suicidando, definitivamente, o nacional-socialismo.
Após a apresentação de um conjunto de notas explicativas das temáticas desenvolvidas no II capítulo, o autor decreve o impacto e as consequências do «Estado do Füher». Assim na terceira parte da obra procura justificar um poder que transcendeu a vertente política, afigurando-se como uma verdadeira fé doutinária assente na contemplação do líder nacional-socialista. Norbert Frei, ressalva, também, a importância da contextualização espaço-temporal enquanto elemento indispensável para compreender um poder que caiu na radicalização. Para o endurecimento da ideologia nazi, aponta o contributo da própria civilização moderna, industrial e científicamente desenvolvida. Apesar de não ter ocorrido uma revolução, verificou-se uma alteração psico-social muito significativa. Se por um lado se torna inegável a prevalência de um Estado totalitário, por outro, houve aspectos como a acultura, a arte e a religião que ficaram à margem da sua influência.
O conjunto de Documentos disponível, permite ao leitor ter uma representação dos factos por intermédio de uma visão contemporânea. Com efeito, é possível estudar a relação sócio-ideológica estabelecida por Rudolf Heberle face ao nacional-socialismo. Por sua vez, o discurso de Rudolf Heb aponta para a capacidade do regime persuadir a nação alemã a cooperar activamente na política de guerra. No que concerne ao comentário de Joseph Goebbels remete para uma a acção estatal repressiva que tenta controlar todos os aspectos da cultura. O documento nº 4, resulta de um discurso proferido por Hitler e reforça o poder totalitário, déspota e autocrata do líder político. As cartas deixadas por Heinrich Himmler revelam a articulação entre a ciência e os ideais puramente racistas. Se o objectivo de Robert Ley versa a expansão territorial do povo germânico, o artigo nº7 adverte para a necessidade de uma selecção social, afastando a «raça pura» do «grupo dos falhados», do «grupo dos preguiçosos e desmazelados» e do «grupo dos criminosos». Através da correspondência endereçada pelo Dr. Friedrich Mennecke identifica-se os processos da terapia psiquiátrica usados nos campos de concentração de Sachsehausen, Ravensbrück, e de Buchenwald. Enquanto a Europa do Leste surge como a esperança num futuro próximo, Helmuth James Graf von Moltke denuncia a violência presente na política externa alemã. Aliás, a análise da Conferência de Wannsee reforça o sentido anti-semita. Por último a leitura do artigo nº 10 fornece o cenário decadente do Reich. Após a invasão soviética, a situação do povo alemão tornou-se mais angustiante. À guerra juntou-se a fome, o desemprego e o desconfiança. Todavia, só com os constantes bombardeamentos é que a «Comunhão Nacional» atribuiu as culpas aos dirigentes políticos.
De forma crítica e minuciosa, Norbert Frei elabora um percurso que retrata não só as Fontes utilizadas como elucida o leitor acerca do próprio processo de investigação e da literatura correspondente. Os dicionários pessoais, as enciclopédias, as cronologias, as actas, os jornais e revistas, os relatórios os diários e o discurso oral representam um importante espólio informativo à disposição do historiador. Não obstante as perdas de documentos durante a II Guerra Mundial, os arquivos municipais e os arquivos privados apresentam-se como uma mais valia ao trabalho de investigadores como Rothfels, Theodor Eschenburg, Ludwig Bergsträsser ou Hans Herzfeld. O autor foca a importância do congresso internacional no Reichtag não tanto em termos de objectividade científica mas sobretudo pelo conjunto de problemáticas que acabou por suscitar, concluindo que a mudança não está no interesse, mas sim, na forma de conceber a história alemã entre os anos de 1933-1945.
Para além das respectivas notas bibliográficas, o livro alvo de estudo é composto por um Quadro Cronológico desenvolvido, por Quadros Sinópticos (que permitem a efectuação de séries comparativas), por um Epílogo referente à Edição Renovada, por um Índice de Abreviaturas e por um Índice Onomástico. Deste modo, «O Estado de Hitler» apresenta-se como uma obra diligentemente estruturada.
(1) FREI, Norbert, O Estado de Hitler – O Poder Nacional-Socialista de 1933 a 1945, Lisboa, Editorial Notícias, 2003, pág. 38.
(2) FREI, Norbert, O Estado de Hitler – O Poder Nacional-Socialista de 1933 a 1945, Lisboa, Editorial Notícias, 2003, pág. 102.
(3) FREI, Norbert, O Estado de Hitler – O Poder Nacional-Socialista de 1933 a 1945, Lisboa, Editorial Notícias, 2003, pág. 145.
(4) Cf. FREI, Norbert, O Estado de Hitler - O Poder Nacional -Socialista de 1933-1945, 1ªed., Lisboa, Editorial notícias, 2003, pág.170
(2) FREI, Norbert, O Estado de Hitler – O Poder Nacional-Socialista de 1933 a 1945, Lisboa, Editorial Notícias, 2003, pág. 102.
(3) FREI, Norbert, O Estado de Hitler – O Poder Nacional-Socialista de 1933 a 1945, Lisboa, Editorial Notícias, 2003, pág. 145.
(4) Cf. FREI, Norbert, O Estado de Hitler - O Poder Nacional -Socialista de 1933-1945, 1ªed., Lisboa, Editorial notícias, 2003, pág.170