A caça na sociedade aristocrática dos séculos XII a XV
Vera Grilo, historiadora
O presente trabalho, pretende apresentar, embora de forma sucinta, a importância da caça, para a aristocracia medieval portuguesa, dos séculos XIV a XV. No espaço correspondente a Portugal medieval e ao longo de um século, procura-se compreender uma atividade enraizada no quotidiano da época e, que de uma forma, ou de outra, seguindo a sua própria modalidade, abrangeu vários grupos sociais. Deste modo, e embora as fontes escritas e as fontes iconográficas se foquem neste grupo, é redutivo cingir esta prática apenas à nobreza. Neste sentido, e apesar do cerne do trabalho ser a caça no seio da cultura aristocrática e a sua importância enquanto ideologia, não deixámos de estabelecer, sempre que possível, um paralelo com a restante sociedade. Não seria credível proceder a um total isolamento de uma variável, pois, mesmo que seja por contraste, é importante distinguir as diferenças inerentes a cada tipologia. Por outro lado, este quadro de análise permitiu-nos ainda, inserir a caça medieval no âmbito da história da cultura e das mentalidades, não só seguindo a ação dos homens, mas também a indiscutível organização do espaço natural.
À exceção de alguns estudos gerais, que abrangem a caça medieval, de outros que particularizam algumas das suas principais tipologias, e dos tratados de caça e respectivos estudos, não é muito abundante a bibliografia nacional disponível. Existe, é certo, a possibilidade de recorrer a fontes de natureza impressa como as Cortes e as Chancelarias régias, e de uma forma, umas vezes mais direta, outras nem tanto, reunir aspetos que se relacionam com o estudo efetuado. Por outro lado, em alguma bibliografia referente à floresta, encontramos indicações sobre esta atividade que se encontra indissociada da mesma. Notámos que são poucas as monografias portuguesas que versam esta temática, sendo valioso o contributo de alguns títulos publicados no estrangeiro.
A caça como uma atividade vinculada à mentalidade e à cultura aristocrática
Compreender a importância que a atividade venatória desempenhou no seio da cultura aristocrática da Baixa Idade Média, implica um conhecimento mais alargado acerca da mentalidade deste grupo.
Trata-se de uma sociedade com códigos definidos e rituais identificadores da sua condição social e económica. Falar da aristocracia dos séculos XIV e XV, é abordar a simbologia adjacente ao conceito de linhagem. Esta nobreza peninsular, procurou restaurar avidamente o passado glorioso das suas origens, apoiando-se na forte presença dos feitos militares e cavaleirescos. Assim, desenvolveram-se os ideais de honra e glória associados à continuidade do morgadio e da própria linhagem. A distância que separa a linhagem da cavalaria não é muito grande, podendo mesmo afirmar-se que estes dois aspetos acabam por se fundir nesta cronologia. A ética e a moral, enquanto princípios norteadores desta aristocracia, pautavam-se pelo uso das armas e pela prova de coragem dada no campo de batalha. Não nos parece errado afirmar que a guerra se afigurou como o plano ideal para consolidar o código feudal. A fama alcançada assumiu um papel relevante na vertente patronímica, dando sentido e união à árvore genealógica e possibilitando o crescimento de uma literatura específica.
Segundo alguns autores, a participação do cavaleiro medieval na guerra atingiu uma função muito para além da natureza jurídica e até mesmo económica, afirmando-se como um verdadeiro prazer ou sinal de dignidade e de distinção social. Estamos perante um grupo de homens que dominava as armas e que se destacava pela sua capacidade de definição e de homogeneidade. A consolidação de uma ideologia que assentou na manutenção da paz e no culto do herói guerreiro, desenvolveu a marca da hereditariedade e da tradição. Numa sociedade em que a vertente guerreira representava um importante vetor, as atividades e distrações que ocupavam o seu tempo livre indiciavam-se desta natureza. À semelhança dos torneios e das justas, e para além da função lúdica, a caça assumiu-se como uma verdadeira prática de adestramento para a guerra. Tratava-se de um treino militar, desenvolvido através da perseguição e da captura de animais selvagens, quer de médio, quer de grande porte. Georges Duby, em As Três Ordens ou o Imaginário do Feudalismo (p.335), indica que ser cavaleiro representava a perseguição da aventura em dois momentos: «a corte: o espaço regido pelas leis da alta sociedade, onde o homem de guerra gosta de divertir-se, respeitando as regras, na companhia das damas e das donzelas (…)» e a (…) «floresta – (…) o vasto campo das emboscadas, da montaria e dos torneios: domínio do selvagem, do indomável, dos perigos estranhos (…)». Por outro lado, é possível verificar através dos Bestiários e das narrativas Hagiográficas, um papel ainda mais profundo assumido pela caça. A mesma é representada como o verdadeiro combate entre as forças do bem e as forças do mal. Neste mundo maravilhoso e sobrenatural, espécies animais como o lobo, o javali, o veado ou o urso incorporaram esta simbologia.
Mais à frente, pormenorizaremos as razões que terão conduzido a uma tão rigorosa proteção das áreas florestais e, ao mesmo tempo, a um aumento das imposições que recaíam sobre os grupos menos privilegiados. Sabemos, que para praticar esta atividade, era necessário não só ter tempo disponível, mas também recursos económicos para possuir e manter matilhas de cães e/ou aves como falcões ou gaviões.
O rei como modelo de caçador medieval
A historiografia medieval, em várias ocasiões, refere-se à caça como um dos momentos lúdicos preferidos dos monarcas. A mesma, é definida como o desenfadamento comum dos reis e, por extensão, da principal fidalguia. Se era um passatempo frequente, na Alta Idade Média, continuaria a sê-lo também ao longo da Baixa medievalidade. Seguindo a linha europeia, os monarcas peninsulares, de forma geral, valorizavam significativamente esta atividade, ora como caça de altanaria, ora como caça de montaria. Vários são os monarcas portugueses a quem é atribuído este prazer, encarando-o e protegendo-o como uma atividade indispensável ao exercício de reinar. As crónicas de D. Dinis, D. Afonso IV, D. Pedro I, D. Fernando I e de D. João I, mencionam estes feitos como admiráveis e, obrigatoriamente, preserváveis, na memória dos tempos(1). Existem mesmo relatos que D. Afonso IV tinha uma certa predileção pela caça., sendo para si, uma atividade prioritária, face às questões do reino. Embora possa existir algum exagero nesta consideração, não nos parece descabido, mediante a informação de que dispomos, formular a existência de um interesse, muito acentuado, do mesmo por esta prática.
Sabemos também que, embora o ato de caçar fosse acompanhado de uma minuciosa preparação a cargo de um grupo especializado, havia situações em que se podia desencadear de forma espontânea. Poderia surgir como uma forma de distração quando a comitiva real se deslocava entre cidades. A Crónica da Tomada de Ceuta (cap. XXXIV), Gomes Eanes de Zurara, narra a viagem dos infantes D. Pedro e D. Henrique até Montemor, indicando que durante o percurso, caçaram um grande urso e enviaram-no a D. João I. (Livro de montaria feito por D. João I, rei de Portugal (…), pág. xxxv).
A prática ou atividade que temos vindo a referir, agregava à sua volta um conjunto de funções e de cargos, entre outros, o de monteiro, o de moço do monte ou o de couteiro. As fontes consultadas referem também a importância de utensílios como a azeuma (arma que servia para os monteiros ferirem o urso, o cervo e o porco-montês), a bozina (instrumento musical de sopro, de pequenas dimensões, transportada pelos moços do monte e pelos monteiros, que permitia emitir sinais, quando necessário), a treela (feita de cordel de linho, de tira de coiro de boi ou de corda de sedas), o fusil e a pederneira (utilizados para acender o lume) e a agulha e o fio (empregadospara coser as feridas dos cães). O ato de caçar, mais do que uma forma, de ocupação dos tempos livres, revelava uma base cerimonial, com gestos, pessoas, objetos e lugares definidos. Ao monarca, que contava com a preparação do evento pelos seus oficiais, cabia sempre o momento mais dignificante da caçada - o enaltecimento das suas qualidades de bom caçador e de bom monteiro.
Compreender a dimensão desta atividade e a respetiva importância, para uma aristocracia que segue o exemplo régio, implica avaliar o impacto que esta teve ao nível da organização e da exploração do território florestal.
A «coutada velha» no século XV
A partir das fontes consultadas, verificámos que se tratou de um vasto território, destinado à prática da caça, pelos monarcas e respetivo séquito. Será nas Ordenações Afonsinas que encontramos uma intensificação das coutadas, ou seja, de espaços florestais onde se conjuga a relação entre fauna e flora selvagem. Esta fauna, nomeadamente algumas espécies consideradas nobres e que teremos hipótese de referir mais à frente, serão, de tal forma protegidas, que originarão um conjunto de leis, por parte dos monarcas dos séculos XIV e XV.
Através do estudo cartográfico, realizado por Devy Vareta, é possível considerarmos a dimensão da «coutada velha do rei», existente no século XV. Devy Vareta, sugere que o facto das matas reais descontínuas, com charnecas e pântanos, se concentrarem sobretudo na faixa litoral ocidental, em locais pouco povoados, se deve ao desenvolvimento da proteção da atividade venatória. São exemplo disso, entre outras, a serra do Soajo, a serra do Cabril, as matas localizadas entre Porto e Coimbra, as matas circundantes a Évora e Santarém e, ainda, a serra da Arrábida.
Na análise levada a cabo detetámos, quer nos documentos provenientes das chancelarias régias, quer das reuniões de cortes, que as populações se queixavam frequentemente deste protecionismo.
No reinado de D. Fernando, nas Cortes de Lisboa (1371), o povo, indicava que « (…) destas coutadas que som muitas saaem porcos que dapnam paaes e vjnhas (...) (Cortes portuguesas, Reinado de D. Fernando I (1367-1383), vol. I, p.20-21).
Nos Capítulos Gerais das Cortes do Porto (1372), era pedido, novamente, ao monarca, que não coutasse novas matas e, que caso os porcos fossem encontrados a fazer dano «(…) que os matasem sem Reçeo (…)»(Idem, pág.94).
No reinado de D. João I, encontramos igualmente alguns agravos relacionados com as coutadas de caça. Assim, nas Cortes de Lisboa (1389), foi solicitado que «os porcos e veados sejam descoutados sem embargo de proibições régias e particulares em contrário», (SOUSA, Armindo, As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490), vol.II, p.231). e, nas Cortes de Leiria - Santarém (1433) «que os porcos, cervos, perdizes, lebres e outras caças sejam descoutadas e assim também todos os matos, com exceção apenas daqueles que foram coutados «em tempos antigos» pelos reis» (Idem, p.312).
Já no reinado de D. Manuel I, são várias as referências ao descontentamento das populações, face ao acentuado número destas coutadas. Com efeito, nas Cortes de Lisboa (1498), nos Capítulos Especiais de Óbidos, foi pedido para que não existissem tantas matas coutadas, uma vez que «no tempo da novidade os dictos porcos, veados se vem as dictas sementeiras e vinhas e pumares de dija e noute e fazem em ellas tanto dãpno que se nom colhe nehua novidade» (Cortes portuguesas, Reinado de Manuel I (Cortes de 14989, p.469-470). Nas mesmas cortes, nos Capítulos Especiais de Torres Novas, foi solicitado ao monarca que fossem descoutadas as matas da serra de Aire e de Boquilobo, pois, «de muyto tempo a esta parte por sse a terra d arredor muyto pouorar nom ha porcos nem veados nem outro nenhuu montados (…)» (Idem, pp.545-546). Ainda, nas mesmas Cortes, nos Capítulos Especiais de Évora, foi referido, face à existência de uma coutada de caça, «que nam ouuve se hy tall coutada ou se a ouuvese que fosse do caminho de Viana ataao caminho de abobada» (Idem, p.403).
Através do estudo cartográfico, realizado por Devy Vareta, é possível considerarmos a dimensão da «coutada velha do rei», existente no século XV. Devy Vareta, sugere que o facto das matas reais descontínuas, com charnecas e pântanos, se concentrarem sobretudo na faixa litoral ocidental, em locais pouco povoados, se deve ao desenvolvimento da proteção da atividade venatória. São exemplo disso, entre outras, a serra do Soajo, a serra do Cabril, as matas localizadas entre Porto e Coimbra, as matas circundantes a Évora e Santarém e, ainda, a serra da Arrábida.
Na análise levada a cabo detetámos, quer nos documentos provenientes das chancelarias régias, quer das reuniões de cortes, que as populações se queixavam frequentemente deste protecionismo.
No reinado de D. Fernando, nas Cortes de Lisboa (1371), o povo, indicava que « (…) destas coutadas que som muitas saaem porcos que dapnam paaes e vjnhas (...) (Cortes portuguesas, Reinado de D. Fernando I (1367-1383), vol. I, p.20-21).
Nos Capítulos Gerais das Cortes do Porto (1372), era pedido, novamente, ao monarca, que não coutasse novas matas e, que caso os porcos fossem encontrados a fazer dano «(…) que os matasem sem Reçeo (…)»(Idem, pág.94).
No reinado de D. João I, encontramos igualmente alguns agravos relacionados com as coutadas de caça. Assim, nas Cortes de Lisboa (1389), foi solicitado que «os porcos e veados sejam descoutados sem embargo de proibições régias e particulares em contrário», (SOUSA, Armindo, As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490), vol.II, p.231). e, nas Cortes de Leiria - Santarém (1433) «que os porcos, cervos, perdizes, lebres e outras caças sejam descoutadas e assim também todos os matos, com exceção apenas daqueles que foram coutados «em tempos antigos» pelos reis» (Idem, p.312).
Já no reinado de D. Manuel I, são várias as referências ao descontentamento das populações, face ao acentuado número destas coutadas. Com efeito, nas Cortes de Lisboa (1498), nos Capítulos Especiais de Óbidos, foi pedido para que não existissem tantas matas coutadas, uma vez que «no tempo da novidade os dictos porcos, veados se vem as dictas sementeiras e vinhas e pumares de dija e noute e fazem em ellas tanto dãpno que se nom colhe nehua novidade» (Cortes portuguesas, Reinado de Manuel I (Cortes de 14989, p.469-470). Nas mesmas cortes, nos Capítulos Especiais de Torres Novas, foi solicitado ao monarca que fossem descoutadas as matas da serra de Aire e de Boquilobo, pois, «de muyto tempo a esta parte por sse a terra d arredor muyto pouorar nom ha porcos nem veados nem outro nenhuu montados (…)» (Idem, pp.545-546). Ainda, nas mesmas Cortes, nos Capítulos Especiais de Évora, foi referido, face à existência de uma coutada de caça, «que nam ouuve se hy tall coutada ou se a ouuvese que fosse do caminho de Viana ataao caminho de abobada» (Idem, p.403).
A caça de volataria e a aristocracia cortesã
Livro de Horas do Duque Berry, Nobres com falcões.– Mês de agosto
No âmbito do nosso estudo, pareceu-nos importante distinguir os dois tipos de caça, praticados pela aristocracia. Ao falarmos na chamada caça de volataria, estamos, obrigatoriamente, a falar de uma atividade onde eram utilizadas aves de rapina, treinadas para apanhar determinada presa. Embora alguns autores apontem que esta modalidade já era praticada nos séculos VIII e IX, um pouco por todo o Ocidente medieval, será mais seguro apontar o seu desenvolvimento, em Portugal, aquando da ocupação muçulmana, e, geralmente, nos territórios situados mais a sul. Trata-se de uma prática que exige mais a destreza da ave adestrada, e menos a força e a energia do caçador. Ao contrário da montaria, não representava uma forma de preparação para a guerra, mas sim um divertimento que exibia um modelo cultural próprio. Este modelo cortesão, encontrava-se imbuído de um certo simbolismo que acabaria por expressar a excelência de uma sociedade, com valores fortemente enraizados. Na realidade, não podemos esquecer que estamos a falar de uma sociedade onde o gesto desempenhou um papel muito importante, não só na identificação, mas também na pertença a um grupo social distinto. Por ser simples, não implicar grandes esforços, nem representar grande perigo, acabou por ser, também, praticada pelas damas da corte.
Depois de apresentarmos os seus principais intervenientes, iremos desenvolver um pouco mais esta atividade. As aves de caça, designadas como “aves nobres” (esta designação surgiu em oposição às chamadas «aves ignóbeis» (águias, abutres e corvos), com um exercício de voo mais lento e, que se alimentavam, sobretudo, de cadáveres).
Na volataria(2), eram utilizadas duas tipologias de aves nobres. Por um lado, as “aves de voo alto”, essencialmente falcões, muito persistentes e corajosos, cujo lance de altanariaocorria em espaços abertos e tinha como objetivo caçar lebres, pombos, perdizes, patos ou faisões. Por outro, utilizavam, “aves de voo baixo”, gaviões e açores, sendo que o lance se desenhava em trajetória reta entre a luva do caçador e a presa, que podia ser, entre outras, lebres ou melros.
A documentação histórica, acerca desta temática, revela o grande interesse por parte de alguns monarcas por esta arte, originando a criação de obras literárias.
Quer fosse apenas pelo status social que esta atividade permitia, quer fosse também pelo aspeto nutricional, vários são os testemunhos que apontam para o seu protecionismo e consequente proibição de caça pela população em geral.
No reinado de D. Afonso IV, nas Cortes de Santarém (1331), nos Capítulos Especiais da própria cidade, foi apresentado um agravo, denunciando o couteiro, que constrangia e penhorava alguns habitantes, denunciados por vizinhos, por terem matado perdizes. Sendo os últimos constrangidos e penhorados, mesmo «nom lhe achando matar perdizes nem lhas achando ter» (Cortes de D. Afonso IV, Reinado de D. Afonso IV (…) pág.98).
No reinado de D. João I, nas Cortes de Leiria - Santarém (1433), foi pedido nos Capítulos Gerais, que «os porcos, cervos, perdizes, lebres e outras caças sejam descoutadas» (SOUSA, Armindo de, As cortes Medievais Portuguesas (…), pág.231).
Por fim, e no reinado de D. Manuel, nas Cortes de Lisboa (1498), foi solicitado que fosse descoutada a caça de perdizes, coelhos e lebres, guardando apenas «algûas pequenas coutadas pera desenfadamento de vosa alteza» (Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp.199-200).
Sabemos que, para praticar esta distração, era necessário ter alguma disponibilidade financeira para suportar os gastos elevados que comportava. Para além das correntes e de outros utensílios, para segurar as aves, eram utilizadas luvas, devidamente apetrechadas, feitas de pele de corço, gamo ou carneiro(3). Por sua vez, o adestramento destas aves, e a posse e treino de uma matilha de cães, não estava ao alcance de todos. Por último, e não menos importante, havia a manutenção dos cargos de Falcoeiro e de Açoreiro entre o reinado de D. Sancho I e o reinado de D. Fernando e o de Monteiro–mor, a partir do último reinado.
Depois de apresentarmos os seus principais intervenientes, iremos desenvolver um pouco mais esta atividade. As aves de caça, designadas como “aves nobres” (esta designação surgiu em oposição às chamadas «aves ignóbeis» (águias, abutres e corvos), com um exercício de voo mais lento e, que se alimentavam, sobretudo, de cadáveres).
Na volataria(2), eram utilizadas duas tipologias de aves nobres. Por um lado, as “aves de voo alto”, essencialmente falcões, muito persistentes e corajosos, cujo lance de altanariaocorria em espaços abertos e tinha como objetivo caçar lebres, pombos, perdizes, patos ou faisões. Por outro, utilizavam, “aves de voo baixo”, gaviões e açores, sendo que o lance se desenhava em trajetória reta entre a luva do caçador e a presa, que podia ser, entre outras, lebres ou melros.
A documentação histórica, acerca desta temática, revela o grande interesse por parte de alguns monarcas por esta arte, originando a criação de obras literárias.
Quer fosse apenas pelo status social que esta atividade permitia, quer fosse também pelo aspeto nutricional, vários são os testemunhos que apontam para o seu protecionismo e consequente proibição de caça pela população em geral.
No reinado de D. Afonso IV, nas Cortes de Santarém (1331), nos Capítulos Especiais da própria cidade, foi apresentado um agravo, denunciando o couteiro, que constrangia e penhorava alguns habitantes, denunciados por vizinhos, por terem matado perdizes. Sendo os últimos constrangidos e penhorados, mesmo «nom lhe achando matar perdizes nem lhas achando ter» (Cortes de D. Afonso IV, Reinado de D. Afonso IV (…) pág.98).
No reinado de D. João I, nas Cortes de Leiria - Santarém (1433), foi pedido nos Capítulos Gerais, que «os porcos, cervos, perdizes, lebres e outras caças sejam descoutadas» (SOUSA, Armindo de, As cortes Medievais Portuguesas (…), pág.231).
Por fim, e no reinado de D. Manuel, nas Cortes de Lisboa (1498), foi solicitado que fosse descoutada a caça de perdizes, coelhos e lebres, guardando apenas «algûas pequenas coutadas pera desenfadamento de vosa alteza» (Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, pp.199-200).
Sabemos que, para praticar esta distração, era necessário ter alguma disponibilidade financeira para suportar os gastos elevados que comportava. Para além das correntes e de outros utensílios, para segurar as aves, eram utilizadas luvas, devidamente apetrechadas, feitas de pele de corço, gamo ou carneiro(3). Por sua vez, o adestramento destas aves, e a posse e treino de uma matilha de cães, não estava ao alcance de todos. Por último, e não menos importante, havia a manutenção dos cargos de Falcoeiro e de Açoreiro entre o reinado de D. Sancho I e o reinado de D. Fernando e o de Monteiro–mor, a partir do último reinado.
A caça de montaria e a continuidade do ideal guerreiro
Uma vez mais, para compreendermos a importância que esta tipologia de caça representou para o aristocrata, implica uma análise à luz dos ideais da época. No seio de um grupo onde o aspeto guerreiro(4) ocupou um lugar privilegiado, a forma de ocupação dos seus tempos livres não poderia estar indissociada desta natureza. A perseguição de animais, serviu para a nobreza, em primeiro lugar, para o rei, não só como forma de distração, mas também, como forma de adestramento. Carlos Riley, em A caça na sociedade e na cultura medieva, (p.10), indica que nesta sociedade, a guerra era tida como um «ofício» e a caça como um «passatempo», uma «diversão aristocrática» ou uma forma de «treino militar» com um cunho «viril e marcial». Embora em vários momentos o autor se refira à caça como um desporto, optámos por utilizar o termo atividade ou prática, pois pareceram-nos mais adequados à época.
O ideal cavaleiresco desenvolveu-se em dois grandes momentos. Por um lado, na corte, envolto num conjunto de símbolos e normas, que permitiam, ao nobre, um divertimento fora do tempo de guerra. Por outro, na floresta, com toda a sua dimensão e perigo. Tal como refere G. Duby na obra, As Três Ordens ou o Imaginário do Feudalismo (p.335), a floresta era «de facto na orla das planícies, o vasto campo das emboscadas, da montaria e dos torneios: domínio do selvagem, do indomável, dos perigos estranhos (…)». Curiosamente, este sítio impregnado de mistério e de desafio, representava, a imagem do palco guerreiro e do inimigo, que poderia atacar, a todo o momento. Franco Cardini, em O Homem Medieval (p.65), reporta-se às Ordens fundadas ao longo do século XII, apresentando o ideal do cavaleiro templário, em oposição ao cavaleiro leigo. Enquanto o segundo ostentava atributos de riqueza no seu percurso, o primeiro «caça apenas animais ferozes (…).Este exercício, (…) para além de ser símbolo da pugna spiritualis, dado que, naciência alegórica da época, as feras são frequentemente símbolo e figura do demónio – lhe é também útil para a guerra».
Tal como acontecia com a volataria, a caça no monte implicava também o envolvimento e a coordenação dos participantes no evento. As fontes, apontam para os monteiros, ora a cavalo, ora a pé, para os moços, para os escudeiros e ainda, para os moços do monte. Ao que parece, cada um teria as suas tarefas, bem definidas. Os moços e os escudeiros, acompanhavam sempre o monarca, para o servir de perto. Os monteiros a cavalo, tinham como função principal recolher as presas e correr nas armadas. Os monteiros a pé, estavam incumbidos de acompanhar as vozarias e de guardar as armadas. Os moços do monte, deviam fazer as vozarias e conduzir os cães. Por último, aos moços estava destinada a confeção da comida e a preparação dos alojamentos.
Em termos de duração, normalmente a montaria decorria apenas um dia. Mas em alguns casos, como o relatado pelo monarca de Castela, D. Afonso XI, em relação à montaria nos montes Cabrera de Nava Luenga, em Avila, podia chegar a durar até cinco dias. Como já referimos anteriormente, tratava-se de uma prática que implicava o gasto de importantes somas. Para além de referências à alimentação de homens, cães e bestas, encontramos menções ao vestuário, que deveria ser adequado ao monte, à estação do ano, e se possível, feito de ricos tecidos e com alguns ornamentos.
A caça, à semelhança da guerra, também tinha os seus perigos. Os animais selvagens, quando se sentiam acossados, quer pelo homem, quer pelo animal, recorriam aos seus instintos mais primários, para se defenderem e, se possível, ganharem o combate. Por vezes, desta luta com as forças da natureza, tanto caçadores como cães ou cavalos saiam feridos, e até mesmo mortos. Não será de estranhar, o facto de existir um santo protetor dos caçadores. Será a S. Roberto que os mesmos recorrerão, em momentos de maior aflição.
Alguns estudos como o de Carlos Rilley, Juvenilidade e Comportamento – O caso de alguns fidalgos portugueses na Baixa Idade Média (p.111), apontam que terá sido a partir do momento em que Portugal se vê a braços com sucessivos conflitos, com Castela e com as guerras em África (a partir de 1415), que o exercício da montaria conheceu um certo abrandamento. Mas não se compreende este acontecimento como um desprezo pela prática, que temos vindo a apresentar, antes como, uma consequência, da absorção da fidalguia pelos novos palcos de combate.
As espécies nobres e a sua proteção
Preferimos denominar de «espécies nobres» toda a caça que é alvo de preferência e de proteção pela aristocracia, em oposição a todas as outras espécies, consideradas de menores e, que eram alvo de exploração pela restante sociedade. Ao contrário dos «bellatores», os «laboratores» encaravam a caça como um complemento para a alimentação. Carlos Riley, classifica-a de «caça - aproveitamento» (op.cit – (nota 1), pág.233), ou seja, uma atividade fortuita, em que os produtos se destinavam apenas ao consumo doméstico. Eram, maioritariamente, canalizados para a alimentação mas, nas zonas mais frias, eram também utilizados no vestuário e no aquecimento da própria casa. Contudo, este grupo praticava ainda a chamada caça - exploração, ou seja, uma caça que tinha como objetivo o lucro. Estes caçadores, ditos «profissionais», autorizados a caçar com armadilhas, destinavam a carne e as peles aos mercados ou açougues urbanos. Esta carne, era muito procurada, principalmente, se se tratasse de aves. Por outro lado, no que concerne às peles, destinavam-se, em grande medida, a um comércio interno, uma vez que, apenas as peles exóticas alcançavam uma dimensão comercial, mais alargada. Por último, o camponês e o pastor ainda lidavam com outro tipo de caça, «a caça defensiva». O coelho, a lebre, a perdiz, o veado ou o javali, poderiam representar uma ameaça para a agricultura, ou para os rebanhos, quando trocavam o saltus pelo ager. Maria Helena Coelho, alerta que não devemos esquecer que esta situação ocorreu, sobretudo, a partir de finais do século XIV, princípios do século XV, quando se assistiu a uma recuperação demográfica, consequentemente a um grande arroteamento das áreas incultas. Com efeito, as espécies selvagens sentiram a necessidade de invadir os espaços agricultados à procura de alimento (consulte-se, Idem, p.258. Com efeito, e só em situações extraordinárias, é que o monarca autorizava a sua captura. Falar da caça, como meio defensivo, obriga mencionar a caça ao lobo e à raposa, destruidores vorazes, de animais domesticados. Encontramos referências à obrigatoriedade que algumas populações tinham na «batida comunitária aos lobos»(5). Nos Capítulos Gerais, apresentados nas Cortes de Santarém (1430), era requerido que os oficiais concelhios tivessem autoridade «de obrigar os moradores dos lugares a fazerem batidas aos lobos quando sentirem que o prol das terras o exige» (SOUSA, Armindo, As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490), vol.II, p.231). Por vezes, detetámos situações em que é denunciado o facto dos oficiais dos concelhos não pagarem os prémios de caça aos lobos, no prazo estabelecido e no montante fixado. Encontrámos ainda, isenções desta atividade. Em 1406, D. João I, outorgou uma carta de privilégio aos moradores de S. João da Foz, onde dizia: «E porem uos mandamos que os nom constrangades nem mandedes constranger daquj en diante correrem lobos em nehua guisa que seia ca nosa mercee he de seerem dello scusados» (Chancelaria de D. João I, Lº 3, fl.56» in História florestal, aquícola e cinegética, vol. I, p.192).
Depois de uma breve referência, a algumas espécies, que se encontravam ao alcance da maior parte da população da Baixa Idade Média, passaremos a mencionar as espécies destinadas apenas à aristocracia e, primeiramente ao monarca. Tratou-se da «veação grossa», ou seja, de animais considerados detentores de nobreza. Era o caso do urso, do veado ou cervo e do javali ou porco-montês. O urso, normalmente, não atacava o homem, e só o fazia se se sentisse em perigo, sendo que nestas situações recorria às unhas para se proteger e ferir o inimigo. O veado ou cervo só atacava se fosse perseguido, ou se as suas crias fossem ameaçadas, nestas situações, servia-se dos chifres para combater. Por fim, o javali ou porco-montês, cuja carne foi sempre muito apreciada, vivia próximo das áreas de cultivo, quase sempre em grupo e, quando acossado, defendia-se com os dentes e as patas.
Não podíamos deixar de mencionar o papel do cão na caça de montaria, não só para descobrir as presas, mas também para as perseguir. No Livro de Montaria, são mencionadas as principais espécies utilizadas: o sabujo, que tinha como função procurar o porco-montês, através do cheiro, e o alão, que apanhava o porco, permitindo que o monteiro o pudesse matar. O cão, emitia sons (ladrava, gania, latia, uivava ou rosnava), que permitiam conhecer a situação, em que se encontrava.
Alguns estudos, apontam para o coutamento das áreas florestadas, como uma consequência da diminuição destas espécies. Com efeito, os monarcas sentiram a necessidade de criar zonas protegidas, um pouco por todo o país, reservando para si a sua exploração. Devy – Vareta indica, na Revista da Faculdade de Letras – Geografia, Vol. I, (p. 30), a relação existente entre os espaços, preferentemente escolhidos pelos reis portugueses para caçar - a mata da costa ocidental, a «coutada velha», o desenvolvimento do comércio de cabotagem e a existência das principais vias, quer terrestres quer marítimas. A mesma geógrafa refere que, essencialmente, num primeiro momento, terá sido o intuito de preservar algumas espécies venatórias que terá levado a realeza portuguesa a coutar espaços pouco povoados, que eram escolhidos como pontos fundamentais aos itineráriosrégios. É comum encontrarmos legislação régia, a proibir a caça destes animais. D. João I, na Carta de coutada da mata de Motrena, a par de Setúbal refere: «que nom seia nehuu nom seia tam ousado (…) que daquj em diante mate hi ceruos nem ueados nem coelhos com cães nem com armadilhas nem com cepos nem com outro nehua cousa (…)» (História florestal, aquícola e cinegética, vol.I, p.206). O mesmo monarca, em relação à coutada dos montes d antre teio e Odiana, adverte: «que nom seia nemhuu tam ousado (…) que mate em as dictas comarcas (…) nemhuus porcos nem porcas nem bácoros monteses» (Chancelarias portuguesas. Chancelaria de D. João I, vol.III, tomo III, p.27). Contudo, existem exceções concedidas sob a forma de benefícios. Encontrámos, entre outros, o exemplo da carta de privilégio concedida ao convento de Alcobaça, com data de 6 de Maio de 1440, onde D. Afonso V, indica: «(…) e querendo lhe fazer graça e mercee que mandássemos descoutar os dictos porcos das dictas mactas e soutos das dictas matas e soutos de dicto moesteiro e couto e possa matar quem quiser sem pena» (História florestal, aquícola e cinegética, vol.II (1439-1481), p.24). Por outro lado, na documentação consultada, são frequentes as queixas por parte dos concelhos, perante o que consideram um excessivo coutamento de espécies e de lugares. A título de exemplo, apontamos a petição apresentada nas Cortes de Leiria – Santarém (1433), que indica: «que os porcos, cervos, perdizes, lebres e outras caças sejam descoutadas e assim também todos os matos, com exceção apenas daqueles que foram coutados «em tempos antigo» pelos reis» (« Ponte de Lima, AM, Pergaminho nº19» p.312).
O contributo da literatura de caça para a educação aristocrática
A importância que a caça teve para a aristocracia, sobretudo para os monarcas, é visível na criação da literatura cinegética. Se por um lado as fontes indicam que D. Dinis terá ordenado a João Martins Perdigão, seu falcoeiro, um tratado sobre cetraria, por outro, referem que mestre Giraldo, físico do mesmo rei, terá escrito o Livro de Alveitaria (Consultar VASCONCELOS, Carolina Michaelis de «Mestre Giraldo e os seus Tratados de Alveitaria e Cetraria» in Revista Lusitana, vol. XIII, pp.12-13). Já no reinado de D. Fernando, e embora, não se saiba onde paira o original, foi elaborado um tratado(6) sobre cetraria por Pero Menino, um dos falcoeiros do monarca. Este Livro de Falcoaria, não só falava das características dos falcões, como enunciava as principais doenças que os afetavam, as mezinhas mais eficazes e as formas mais detalhadas de tratamento.
No início do século XV, D. João I elaborou um tratado de caça, que seguindo o raciocínio de Manuela MENDONÇA em Atas do Congresso Histórico - 150 anos do nascimento de Alberto Sampaio (pág.280), deve ter resultado do contributo de vários monteiros experientes. Na mesma, mencionava a forma mais adequada de sinalização, os espaços e climas mais apropriados, o vestuário e o calçado destinados para a montaria, a importância da vozearia e o processo de recolha do animal. O Livro de Montaria, de grande riqueza interpretativa, tinha como objetivo enaltecer a caça ao porco-montês, como uma prática essencial para o treino militar. O monarca, referia ainda a importância de se rodear de pessoas dignas e de não se deixar seduzir por aspetos como o orgulho, a presunção ou a aspiração desmedidas. Nesta obra, de carácter didático, sobressaía as duas dimensões que podiam caracterizar um animal: a doméstica e a selvagem. De certa forma, estabelece-se uma forte complementaridade entre as duas. Na sua descrição, predomina uma forte ligação com a experiência, proveniente do contacto permanente com a natureza. A caça ao javali, envolvia uma coordenação de atos, por parte de todos os intervenientes. Com efeito, quem fazia parte deste processo, deveria possuir um saber aprofundado acerca desta atividade. Todos os movimentos do animal tinham de ser cuidadosamente seguidos, sendo importante conhecer «o lugar a tal em que o porco cee» (…) (D.JOÃO I, Livro da Montaria, pp. 99-100).
Só assim era possível deter o animal através de «(…) meio cerco » (IDEM, p.108.). Depois deste momento, sempre contando com a larga experiência dos monteiros, poderia ocorrer a captura da animal. Para que tudo decorresse como esperado, eram essenciais as vozarias «(…) e outrosi lhes deue defender que nenhum nom se suba a nenhua aruor, ou em penedo alto logo que o porco passa, senom todauia que seiam em chaão» (IDEM, p.108.). Simultaneamente, os cães entravam em ação, iniciando a perseguição à presa. Havia que desenvolver-se um clima de confiança, entre o cão e o monteiro, pois «se os caães forem cansados, quando o porco assim for alongado (…) devem (…) de achegar aos caães, e irem com elles muyto juntos, fallandolhes em bõas uozes esforçadamente, em tal guisa que os caães se esforcem pollas uozes, e ajam sabor de terr milhor o correr» (IDEM, p.144.).
O cão, desempenhava um papel muito importante na montaria, sendo que D. João I, reservou alguns capítulos da sua obra, ao nascimento, desenvolvimento e treino destes animais. Nesta tipologia cinegética, como já tivemos oportunidade de mencionar, eram utilizadas duas raças distintas: o alão e o sabujo. Enquanto o primeiro era considerado um animal nobre, criado com maiores cuidados, sendo-lhe reservada a captura do animal, o segundo era um cão mais rude, que tinha como função procurar a caça e, por conseguinte, estava mais adaptado aos perigos da montaria. As capacidades dos animais eram avaliadas através da cor, da constituição física e dos sinais que reuniam.
D. João I, considerava que o cavaleiro não devia apenas saber como matar a presa, mas também como fazê-la surgir, e como incentivar os cães. Por vezes, podiam ocorrer alguns acidentes «porque muytas uezes cahem os caualos em couas de coelhos, e em couas de souereyros uelhos, e em paaos atrauessados em tremedaaes de aguas, e em outras muytas cousas» (MARTINS, Mário, Estudos de Cultura Medieval, pág. 226). A captura do animal era mais simples quando decorria em terrenos planos, uma vez que possibilitava, tanto aos cães como aos cavalos, correrem com maior destreza. Depois de ferido com a lança que deve ser (…) na ponta na estreitura bem igual, e bem sacadao (…)», o animal «(…) ladra, abaixa o focinho, tomba as orelhas sobre os olhos para logo as erguer hirtas, aguça os dentes, rola os olhos furiosos, dá umas passadas» (GOMES, Maria Manuela Ribeiro de Almeida, O Homem, o animal e a floresta (…), pág.6). Embora a vítima esperada fosse o porco-montês, existiam situações em que, tanto cães, cavalos ou cavaleiros ficavam feridos.
Ao analisarmos o Livro de Montaria, aferimos que se destinava apenas a um grupo restrito, capaz de cultivar este exercício, envolto em pompa e circunstância. No topo deste grupo, distinguiam-se as figuras régias que «se deuem de guardar de nom cahirem em erro de serem monteiros». Tratava-se da continuidade do ato da governação ,em «que aquelles que seus forem, entendam em elle que a tal authoridade, que se o bem seruirem em este joguo, receberam delle mercee assi como sempre foy» (IDEM, pág. 27).
Antes, aludimos à relação que se devia estabelecer entre os participantes da caçada, mas será que esta implicaria o mesmo trato, para com todos os grupos sociais presentes? Tudo leva-nos a crer que não. Apesar de ser fulcral este inter-relacionamento, na realidade, os elementos distintivos e criadores de hierarquias mantinham-se. Não obstante a figura régia deter o monopólio desta atividade, de forma geral, a caça de montaria representava um momento fundamental para o adestramento geral da nobreza.
Para além da relação homem/animal/natureza, sobressaía uma vertente simbólica, expressa no combate entre o Deus e as forças demoníacas.
Mas o que terá levado D. João I, a escrever um tratado sobre cinegética?
Decerto, o desejo de deixar registado um conjunto de princípios, que deveriam reger a ação dos monteiros. Assim, valorizando a prática, procurou, com base na experiência e com recurso a autores e obras antigas, difundir um modelo educacional, adaptado às exigências do contexto político e social.
Uma vez que estamos a abordar alguns dos principais tratados técnicos medievais portugueses, não podemos deixar de mencionar o Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela, da autoria do rei D. Duarte. É fulcral, segundo Maria Isabel Dias in A Arte de Ser Bom Cavaleiro (p.21-22), relacioná-lo com os «valores do profissionalismo militar em que a nobreza do início da segunda dinastia e o seu rei se formaram». Esta obra, terá sido escrita na terceira década do século XV, e encontra-se dividida em três partes, sendo antecedida por um prólogo e refletindo um vasto conhecimento pessoal acerca do assunto. Não se apresentou como um simples tratado de equitação, antes como o enaltecimento da educação e da vontade. De uma forma clara, verifica-se que houve uma conexão entre o aspeto técnico e a vertente filosófico-moral. Para o conhecimento, tinha maior peso o ensino – aprendizagem do que, propriamente, a vontade e o poder. D. Duarte, defendia que o conhecimento de cada um estava dependente de uma formação completa: física, intelectual e espiritual. Muito importante, foi o desenvolvimento da chamada «pedagogia do medo», ideia defendida por, M. RodriguesLapa, «D. Duarte e a prosa didáctica» in Lições de literatura Portuguesa (pp.347), em que é abordado o temor que o aprendizado poderia ter face à disciplina. Assim, se existiam «alguus sem receo per nacença, por qu nacem sem medo (…), existem outros, que «tee tam grande vergonha ou empacho de fazer alguuas cousas» (Toda Sela que fez El-Rey Dom Eduarte de Portugal e do Algarve e Senhor de Ceuta (p.43)). Estes, deviam conhecer «seus fallicimentos, e se esforçarem quanto em elles for». Ao longo de todo o texto, denota-se um forte sentido pedagógico, presente na defesa das capacidades guerreiras. «E por tanto bem se pode entender a grande vantagem que tee os boos cavalgadores nos feitos de guerra» (Idem, p.62). Saber cavalgar e ser expedito na arte da montaria, eram atributos essenciais para ser convocado para a guerra, elemento insigne do status social desta sociedade. O bom cavaleiro, tinha de dominar o cavalo, as forças da natureza e, em geral, o mundo com valores como a honra e a superioridade. Devia assim, «sempre trazer boos cavallos, e esto por se entenderem delles ajudar e bem os conhecer e manteer» (Idem, p.4). Era ainda enobrecida a beleza das atitudes aplicada nos exercícios (LAPA, M. Rodrigues, «D. Duarte e a prosa didáctica» in Lições de literatura Portuguesa, pp.348). O monarca, declarou: «E ssomariamente de homem a que convem teer boas bestas, e as saber bem cavalgar, se sseguem estas sete avantagees: A primeira, seer mais prestes para servir seu senhor, e acudir a muytas cousas que lhe acontecer poderóm de sua honra e proveito. A ssegunda, andar folgado. A terceira, honrrado. A quarta, guardado. A quinta, seer tym [u]do. A sexta, ledo. A sséitema, acrecenta m[a]yor e melhor coraçom» (Toda Sela que fez El-Rey Dom Eduarte de Portugal e do Algarve e Senhor de Ceuta, p.43).
Esta breve abordagem, sobre a importância da caça para a aristocracia medieval portuguesa da Baixa Idade Média, permitiu-nos compreender um conjunto de aspetos que se encontram relacionados com esta prática. Tanto as fontes consultadas, como os estudos analisados, contribuíram para a construção de uma visão mais abrangente. Foi possível, deste modo, traçar uma imagem global e assimilar um conjunto de relações que se estabeleceram neste contexto político-económico, social e cultural. Porque abordar a caça enquanto mecanismo relevante no seio profissional de um grupo, implicou, por comparação, compreender o impacto deste exercício para o global. Tratou-se de criar uma correspondência entre processos, valores e realidades distintas, mas estruturantes de um todo social. Por outro lado, verificámos, uma vez mais, que trabalhar sobre esta temática implica, obrigatoriamente, alargar os horizontes de um plano circunscrito a um exercício. Sobremaneira, deparámo-nos com aspetos que, indubitavelmente, se cruzam: o homem, a flora, a fauna, o clima e Deus. A perseguição e captura do animal selvagem (fauna específica), enquanto adestramento militar, encontra-se dependente da flora e do clima vigentes. E, ainda indissociável, da instância simbólica que o cristianismo lhe inculcou e fez perdurar, enquanto prolongamento do natural e do sobrenatural. O Rei ou o nobre, capacitados em manter o apanágio desta prática, representaram a continuidade de um ideal fortemente enraizado e constantemente perseguido. Depois destas constatações, não será difícil compreender que a caça representou, para este grupo, mais do que um divertimento, alcançando um valor intrínseco, associado ao dever, ao cumprimento e à exteriorização de um papel.
Resta-nos, não esquecer que este trabalho não encerra todas as possibilidades de abordagem. Pelo contrário, só um estudo aprofundado de outras fontes inéditas, poderá ajudar a cumprir essa função e, quem sabe, a consolidar ou até alterar algumas convicções.
(1) Veja-se a descrição feita por Carlos Riley na Exposição de um acto público de provas académicas, mais tarde publicado in COELHO, Maria Helena da Cruz; RILEY, Carlos Guilherme, «Sobre a caça medieval», Estudos Medievais, nº9, Porto, 1988, p.242. Esta concepção é também defendida por Maria Manuela Gomes na sua tese de mestrado O Homem, o animal e a floresta – uma abordagem ao Livro de Montaria de D. João I de Portugal, Universidade do Minho, 1997.
(2) Carlos RILEY op.cit na nota (1), p.248, opta por se referir ao termo volataria para englobar a falcoaria e a açoraria. No Livro de Montariaop.cit. na nota (18) p. XXXII) é indicado que a caça em que eram utilizadas aves de rapina, fossem falcões, gaviões ou açores se denominava de altanaria (altanus, altus = a voo alto) e de volataria (volatilis = a ave que apreende a presa). Por outro lado, distingui a falcoaria (utilização do falcão) da cetraria (recurso ao gavião). Na obra A Sociedade Medieval Portuguesa, 5.ª ed., Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1987, pp.199-200, o professor Oliveira Marques engloba no temo cetraria tanto a caça com gaviões como a caça com falcões e com açores.
(3) Cfr. NEVES, Baeta, História florestal, aquícola e cinegética, ed. de Carlos M. Baeta Neves, vol.I (1208-1438), Lisboa, Ministério da Agricultura e Pescas – Direcção-Geral do Ordenamento e Gestão Florestal, 1980 e «Subsídios para a História da Falcoaria em Portugal», Sep. do Boletim daSociedade de Geografia de Lisboa, 1983. Veja-se também D`HAUCOURT, Geneviève, A vida na Idade Média, Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1944, p.47-53.
(4) Conforme José Mattoso, no estudo Identificação de um País – ensaio sobre as origens de Portugal 1096-1325, vol.I - Oposição, Lisboa, Editorial Estampa, 1991, p.126, a partir do século XIII, na Península Ibérica, ocorreu a difusão do modelo guerreiro a partir da necessidade que a nobreza sentiu em demonstrar o seu controlo através da posse e manuseamento das armas. Desta forma, não concentrava apenas a detenção do poder económico, judicial e fiscal, mas também do poder guerreiro. O mesmo autor, no segundo volume da obra anteriormente citada, refere-se à formação de linhagens no Entre Douro e Minho a partir do êxito militar demonstrado nas campanhas afonsinas.
(5) Tratou-se de um lobo proveniente do Leste e que terá chegado à Europa aquando as invasões germânicas, sendo um animal que dizimava outras espécies e que terá prevalecido de forma negativa no imaginário das populações rurais. Relativamente a esta temática, consulte-se GONÇALVES, Iria, «Espaços silvestres para animais selvagens no Noroeste de Portugal, com as Inquirições de 1258», Estudos em homenagem ao Professor Doutor José Marques, vol. 2, Porto, 2006, pp.206-209 e da mesma autora GONÇALVES, Iria, «Sobre o coberto arbóreo da Beira interior nos finais da Idade Média», Estudos em homenagem ao Professor Doutor José Amadeu Coelho Dias, vol. 1, Porto, 2006, p.349.
(6) Um pouco por toda a Europa, do século XIII em diante, assiste-se à redação de diversos tratados escritos por grandes aristocratas e, até mesmo,por monarcas, como é o caso do tratado De Arte Venadi Cum Avibus da autoria de Frederic II de Hohenstauffen (século XIII). É importante mencionar o Livro de Caça, ditado a um copista, entre 1387 e 1389, por Gaston Phébus, conde de Foix. Datado do fim do século XIV é composto por 112 páginas, ou fólios. O texto apresenta-se escrito em letra gótica e é composto por duas colunas de 33 linhas cada. Foi ilustrado por um dos melhores artistas avinhenses de sempre. Sobre esta obra aceder ao site: http://classes.bnf.fr/phebus/index.htm
(2) Carlos RILEY op.cit na nota (1), p.248, opta por se referir ao termo volataria para englobar a falcoaria e a açoraria. No Livro de Montariaop.cit. na nota (18) p. XXXII) é indicado que a caça em que eram utilizadas aves de rapina, fossem falcões, gaviões ou açores se denominava de altanaria (altanus, altus = a voo alto) e de volataria (volatilis = a ave que apreende a presa). Por outro lado, distingui a falcoaria (utilização do falcão) da cetraria (recurso ao gavião). Na obra A Sociedade Medieval Portuguesa, 5.ª ed., Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, 1987, pp.199-200, o professor Oliveira Marques engloba no temo cetraria tanto a caça com gaviões como a caça com falcões e com açores.
(3) Cfr. NEVES, Baeta, História florestal, aquícola e cinegética, ed. de Carlos M. Baeta Neves, vol.I (1208-1438), Lisboa, Ministério da Agricultura e Pescas – Direcção-Geral do Ordenamento e Gestão Florestal, 1980 e «Subsídios para a História da Falcoaria em Portugal», Sep. do Boletim daSociedade de Geografia de Lisboa, 1983. Veja-se também D`HAUCOURT, Geneviève, A vida na Idade Média, Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1944, p.47-53.
(4) Conforme José Mattoso, no estudo Identificação de um País – ensaio sobre as origens de Portugal 1096-1325, vol.I - Oposição, Lisboa, Editorial Estampa, 1991, p.126, a partir do século XIII, na Península Ibérica, ocorreu a difusão do modelo guerreiro a partir da necessidade que a nobreza sentiu em demonstrar o seu controlo através da posse e manuseamento das armas. Desta forma, não concentrava apenas a detenção do poder económico, judicial e fiscal, mas também do poder guerreiro. O mesmo autor, no segundo volume da obra anteriormente citada, refere-se à formação de linhagens no Entre Douro e Minho a partir do êxito militar demonstrado nas campanhas afonsinas.
(5) Tratou-se de um lobo proveniente do Leste e que terá chegado à Europa aquando as invasões germânicas, sendo um animal que dizimava outras espécies e que terá prevalecido de forma negativa no imaginário das populações rurais. Relativamente a esta temática, consulte-se GONÇALVES, Iria, «Espaços silvestres para animais selvagens no Noroeste de Portugal, com as Inquirições de 1258», Estudos em homenagem ao Professor Doutor José Marques, vol. 2, Porto, 2006, pp.206-209 e da mesma autora GONÇALVES, Iria, «Sobre o coberto arbóreo da Beira interior nos finais da Idade Média», Estudos em homenagem ao Professor Doutor José Amadeu Coelho Dias, vol. 1, Porto, 2006, p.349.
(6) Um pouco por toda a Europa, do século XIII em diante, assiste-se à redação de diversos tratados escritos por grandes aristocratas e, até mesmo,por monarcas, como é o caso do tratado De Arte Venadi Cum Avibus da autoria de Frederic II de Hohenstauffen (século XIII). É importante mencionar o Livro de Caça, ditado a um copista, entre 1387 e 1389, por Gaston Phébus, conde de Foix. Datado do fim do século XIV é composto por 112 páginas, ou fólios. O texto apresenta-se escrito em letra gótica e é composto por duas colunas de 33 linhas cada. Foi ilustrado por um dos melhores artistas avinhenses de sempre. Sobre esta obra aceder ao site: http://classes.bnf.fr/phebus/index.htm
BIBLIOGRAFIA
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Sites consultados:
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http://escritoriodolivro.com.br/historias/horas.html